sábado, 24 de março de 2012

Moção das Mulheres em apoio a Comissão da Verdade

Mulheres encabeçam passeata contra a censura. Rio de Janeiro, 1968.
Da esquerda para a direita, Eva Todor, Tonia Carreiro, Eva Wilma,
 Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengel. Foto de Agência JB.

A gente conta a História como quem conta histórias. Decorrência de nossa tradição oral.

Histórias de Maria, de Rose, de Nair, de Amelinha, de Clara, de Clarice, de Eleonora, de Dilma, e também de João, de Vlado, de Pedro, de Paulo, de Chico, de Márcio, de José...

Durante anos, sombras dominaram o país por um longo período. Tempos em que se restringiu a liberdade de expressão, de reunião, de informação, de ir-e-vir, de pensar e de agir, da população. Tempos em que as pessoas que te visitavam tinham que se identificar com o zelador, que passava a lista à polícia. Tempos em que não se podia votar, eleger, decidir, escolher.

Uma geração de homens e mulheres valorosos dedicaram os melhores anos de sua vida para restabelecer a democracia que vivemos hoje. Escolheram os caminhos mais diversos – a atividade parlamentar (enquanto ainda não proibida), a luta armada, a greve, o exílio ou auto-exílio, o estudo, a discussão, a resistência, a solidariedade, o apoio, a mobilização nas ruas, mesmo que proibidas.

Enquanto isso, nos porões da ditadura militar, eles se valeram de sua posição de autoridade, de representantes do Estado, para prender, torturar, fazer desaparecer.

Neste processo, as mulheres presas políticas aguentaram requintes de crueldade, sofrendo também constrangimentos, estupros, ameaças de ou torturas inomináveis nascidas de mentes perversas, torturas de seus filhos ante os seus olhos.

Foi também das mulheres a iniciativa de construir o Movimento Feminino pela Anistia, que logo foi engrossado pela sociedade e, em pouco tempo, fomos ficando tantos e tantas, que não houve outra saída senão redemocratizar o país e anistiar a todos.

Essa história, não se conta na escola. Ainda.

Muitos anos depois, ouvindo o nosso clamor, o Congresso finalmente aprova a criação de uma Comissão da Verdade, para averiguar as ignomínias não-esclarecidas. A mídia começa a se ocupar do caso.

O general Rocha Paiva, atribuindo-se o papel de porta-voz, se permite ironizar e duvidar do relato de tortura da atual presidenta Dilma, da causa de morte do Wladimir Herzog, e questionar a legitimidade da estruturação da Comissão.

Pronunciamentos de militares sobre duas de nossas ministras – Maria do Rosário e Eleonora Menicucci – bem como questionando a autoridade do Ministro da Defesa, tentam criar um fato e um constrangimento político.

Por isso nós, mulheres reunidas neste 8 de março – dia internacional da mulher – vimos a público afirmar o nosso apoio integral à Comissão da Verdade.

Que nossa história seja finalmente revelada, que a verdade seja estabelecida, que se revele o destino dos desaparecidos, que se iluminem os porões.

Que se restabeleça a memória e a história, para que nunca mais ninguém se permita tentar reinstituir os mesmos mecanismos de exceção e opressão.


domingo, 18 de março de 2012

Fotos da Ação da MMM no Aterro do Flamengo

Confira as fotos de nossa atividade no Aterro do Flamengo, no domingo, 18 de março.
São as mulheres da Marcha rumo à Cúpula dos Povos na Rio+20 com justiça social e ambiental.

domingo, 11 de março de 2012

Ação Feminista dia 18 de março no Aterro

Ação Feminista no Aterro do Flamengo, no domingo, dia 18 de março, a partir das 10 horas.
Uma atividade da MMM/RJ rumo à Cúpula dos Povos na Rio+20 por justiça social e ambiental.


sábado, 10 de março de 2012

Marcha Mundial das Mulheres- RJ na luta por um projeto justo de desenvolvimento

Se um outro mundo é possivel, chegou a horas das mulheres dizerem qual será ele!

O Brasil hoje vive um momento de inegáveis transformações sociais. Desde 2003 os índices de desemprego são cada vez menores assim como a desigualdade social e a miséria absoluta. Programas de transferência de renda em conjunto com a política de valorização do salário minimo vêm garantindo um acesso mais amplo aos bens de consumo, ao crédito, aos serviços privados. O país cresce economicamente porque, entre outras coisas, o mercado interno se democratiza e o mercado de trabalho aquecido gera maior riqueza produzida pelos trabalhadores e trabalhadoras. Apesar disso não sabemos qual o projeto de sociedade que está por trás dessas mudanças.  A pergunta que fazemos é: será que as transformações recentes e os bons índices econômicos podem nos garantir um outro modelo de sociedade?

Esse ano o Brasil e o Rio de Janeiro em especial vivem um momento de importantes debates e decisões sobre os rumos de nossa sociedade. A Rio+20 que acontecerá em junho é um dos maiores fóruns governamentais do planeta e o que está em jogo é a discussão sobre um novo modelo de relação com o meio ambiente. No entanto, nós dos movimentos sociais, sabemos que os governos assim como a ONU não estão dispostos a propor transformações radicais de ruptura com o modelo capitalista de sociedade. A tarefa de elaborar um outro modelo de desenvolvimento está inteiramente colocada para a sociedade civil que se organiza na Cúpula dos Povos, fórum paralelo à Rio+20, protagonizado pelos movimentos sociais do mundo todo. Não estamos interessadas em metas para viabilizar um “capitalismo verde”, nem mesmo acreditamos em um modelo de sustentabilidade que não cause fissuras ao paradigma capitalista de desenvolvimento. Queremos um outro mundo, sem exploração de qualquer tipo, justo e igualitário.

Nós da Marcha Mundial das Mulheres estamos participando ativamente da construção da Cúpula dos Povos porque acreditamos que o modelo de desenvolvimento em curso no Brasil e no mundo não nos contempla. A pobreza e os desastres ambientais afetam imensamente as mulheres do mundo todo assim como a concentração de terras e a privatização crescente dos bens comuns. As experiências mais vitoriosas de costrução de um outro modelo econômico, como a agroecologia e a economia solidária só são possíveis por conta do protagonismo feminino nessas redes e por isso pensamos que as mulheres tem muito a contribuir para uma sociedade mais justa e solidária.
No Brasil achamos que o modelo de desenvolvimento amplamente baseado no acesso ao mercado de consumo não nos serve. Defendemos a desmercantilização dos serviços básicos e para isso exgimos um fortalecimento da saúde, dos transportes, da educação e dos serviços públicos no geral. Um país justo é um país sem miséria mas com amplo acesso às coisas públicas.

Pedimos o veto da Presidenta Dilma às mudanças nefastas do novo código florestal assim como seu comprometimento com a politica de reforma agrária que se encontra paralisada. O modelo de desenvolvimento do campo baseado no agronegócio é inimigo das mulheres e dos mais pobres porque gera desigualdade, elimina as populações camponesas e contribui para a disseminação de agrotóxicos em nossos aliementos. A agricultura familiar, com o protagonismo das mulheres camponesas, deve ser nossa politica para o campo. Não podemos mais aceitar o exterminio de populações indigenas, seringueiras e ribeirinhas pelos latifundiários!

Um novo modelo de desenvolvimento é possível e ele não será construído pela centralidade da inclusão pelo mercado, mas justamente pela desmercantilização da vida das populações mais pobres através da ampliação do acesso ao público e aos bens comuns. Por uma reforma agrária e pela dignidade da vida no campo que só virá através da aposta na agricultura familiar e não no agronegócio.

Não vamos aceitar um projeto de desenvolvimento urbano que expulse os pobres dos centros das cidades através da crescente especulação imobiliária. Queremos que o acesso à cidade seja uma garantia cidadã assim como a questão do transporte público precisa ser tratada como um direito à cidade e à mobilidade urbana. Os mega eventos como a copa e a olimpíada não podem produzir um processo de exclusão e desapropriação comandado pelo grande capital. As mulheres exigem uma cidade democrática, um transporte público digno e acesso à cultura.

Queremos um modelo de cidade justa e democrática que só será viabilizado pela ampliação dos serviços públicos de qualidade: transporte, alimentação, creches, lavanderias. Só assim haverá uma justa divisão dos trabalhos sociais. O debate sobre um novo modelo de desenvolvimento nos impõe uma tarefa militante: convencer a sociedade de que economia e politica andam juntas e que metas econômicas, assim como a viabilidade do crescimento econômico, não podem ser dimensões apartadas da disputa politica por um novo modelo de sociedade. A marcha mundial das mulheres acredita que o feminismo se faz, entre outras coisas, pela disputa de valores na sociedade, especialmente aqueles ligados à igualdade, justiça e socialização dos bens públicos.

Um outro mundo é possível e chegou a hora de dizer que mundo é esse!

Não há revolução sem feminismo. Não há projeto de desenvolvimento viável sem a luta das mulheres!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Declaração Internacional da MMM para o 8 de março

Neste 8 de março, nós, as mulheres da Marcha Mundial das Mulheres, seguimos marchando, resistindo, e construindo um mundo para nós, os outros, os povos, os seres vivos e a natureza. Nossas ações continuam enfrentando embates com o paradigma mortal do capitalismo, com suas falsas soluções para as crises e com a ideologia fundamentalista conservadora.

Vivemos uma crise do sistema capitalista, racista e patriarcal que, para se sustentar, impõe brutais “medidas de austeridade” que obrigam a nós, os povos, a pagar por uma crise que não provocamos: são cortes nos orçamentos de todos os serviços sociais, diminuição de salários e de pensões, estímulo à guerras e avanço da mercantilização de todas as esferas da vida. Nós, as mulheres, pagamos o preço mais alto: somos as primeiras a ser demitidas e, além das tarefas domésticas mais habituais, somos obrigadas a assumir as funções antes cobertas pelos serviços sociais. Tais medidas carregam o peso da ideologia patriarcal, capitalista e racista e são expressão de políticas de incentivo para que voltemos ao mundo privado, ao mesmo tempo que estimulam o avanço da prostituição e da venda das mulheres, o aumento da violência contra nós, o tráfico e as migrações.

Denunciamos a contínua imposição de acordos de livre comércio, que tentam transformar os bens comuns como saúde, educação e água em mercadorias, e aprofundam um mercado de exploração da mão de obra barata nos países do Sul. Recusamos a cultura do consumo que empobrece mais as comunidades, gerando dependência e exterminando as produções locais.

Nos solidarizamos com as mulheres em luta na Europa, especialmente na Grécia mas também em Portugal, Galicia, Estado Espanhol, Itália e Macedonia, que se estão organizando para resistir à ofensiva neoliberal e retrógrada promovida pelas instituições financeiras e políticas, e seus próprios governos, a serviço dos interesses das corporações transnacionais. Nos solidarizamos também com todas as mulheres do Sul que enfrentam a fome, a pobreza, a superexploração do trabalho e a violência, mas que seguem construindo sua resistência.

Denunciamos o avanço da militarização em todo mundo como estratégia de controle dos nossos corpos, vidas, movimentos e territórios. A militarização garante o neocolonialismo, o novo saque e apropriação do capital sobre os recursos naturais e a manutenção do enriquecimento da indústria armamentista frente à crise. Constatamos com temor a ameaça de retorno do militarismo e do autoritarismo como valores na sociedade em diferentes países ao redor do mundo, como: no Oriente Médio, na Tunisia, Líbia e Egito, onde as mulheres e os povos continuam em luta contra todo tipo de ditadura fundamentalista e por uma verdadeira democracia; na Palestina onde as mulheres lutam contra o colonialismo e o sionismo; em diversos países Africanos – como em Senegal onde o governo se utiliza da força do exército por interesses eleitorais, ou no Mali onde grupos armados aterrorizam a população civil em sua luta pelo controle da região norte; em Honduras, México, Guatemala e Colômbia onde há processos de re-militarização; e em diversos países em Ásia-Oceania onde a presença das tropas militares dos Estados Unidos está sendo reforçada.

Nos solidarizamos com as mulheres e os povos em resistência e luta em todos os territórios que estão em guerra, sob controle militar e em risco de serem controlados, ou aqueles que vivem os impactos nefastos da presença militar estrangeira. Apesar disso, nós, mulheres, continuamos defendendo nosso território, corpo e terra da exploração dos exércitos regulares e irregulares, estatais e privados.

Denunciamos a estratégia coordenada dos meios de comunicação globalizados que buscam revigorar dogmas e valores conservadores, e que põem em risco as conquistas e avanços das mulheres em todo o mundo.

Os espaços de participação são fechados, o protesto é criminalizado, e o direito a decidir sobre nossos corpos é cerceado. Nossa autodeterminação reprodutiva está ameaçada onde a conquistamos, como, por exemplo, em diversos países da Europa (como Portugal e Espanha) e da América do Norte, nos quais o aborto é legalizado, mas este direito é atacado na prática por cortes dos orçamentos públicos que têm como alvo os hospitais e os serviços de interrupção da gravidez. Em muitos outros países, como na América Latina e vários países da Ásia-Oceania, as mulheres que abortam seguem sendo criminalizadas, como no Brasil, Japão e Vanuatu. No México, o aborto é legalizado no Distrito Federal e criminalizado no resto do país. Em Honduras, a pilula do dia seguinte foi proibida. Na Nicarágua, o aborto mesmo em situações de risco de vida para a mãe ou em casos de estupro se torna um crime através de uma Reforma Constitucional. A Rússia segue este exemplo com a primeirda dama à frente de campanhas para proibir o aborto em qualquer situação. Grupos auto-intitulados “pró-vida” defendem na realidade a morte das mulheres, insultam a nós e às profissionais de saúde na América do Norte, pressionam o parlamento para rever a lei na África do Sul e impedem qualquer discussão no Paquistão.

Nos solidarizamos com todas as mulheres que seguem lutando e enfrentando conflitos com a polícia, o Estado e o poder judiciário injusto, bem como com aquelas que enfrentam a violência que sofrem.

Frente a estas situações, estamos nas ruas, temos alternativas que já estamos construindo e vivenciando. Reiteramos que seguiremos nos fortalecendo, a partir de nossos corpos e territórios em resistência, aprofundando nossos sonhos de transformações estruturais em nossas vidas e marchando até que todas sejamos livres!

Fazemos um chamado à articulação de nossos movimentos e às alianças com os outros movimentos sociais, pois só assim construiremos um mundo em liberdade.


Em todo o mundo, 8 de março de 2012

Ato público no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher no Rio de Janeiro


“MULHERES NA RUA CONTRA A VIOLÊNCIA: POR TRABALHO DIGNO, DIREITOS E LEGALIZAÇÃO DO ABORTO”


No dia 8 de março de 2012, o movimento feminista do Rio de Janeiro estará nas ruas para celebrar o Dia Internacional das Mulheres e para levantar nossas bandeiras de lutas.

A partir do meio-dia, as entidades do movimento de  mulheres estarão no Largo da Carioca com uma grande tenda, som, suas faixas e folhetos e a partir das 17:30h, será realizada uma caminhada até a Cinelândia, onde o ato se encerrará com uma ciranda.